Vasco da Gama completou 110 anos
Essa semana o Vasco da Gama competou 110 anos de história nos esportes, na cultura, na política enfim na sociedade brasileira.
O Blog Diário do Rio publicou uma excelente matéria sobre essa história e traz um vídeo de Getúlio Vargas anunciando, em São Januário, a criação das leis trabalhistas confiram aqui.
Abaixo um pouco da história de São Januário:
São Januário já sediou defile das escolas de samba
Não é novidade para ninguém que o Estádio de São Januário faz parte da história cultural, política e cívica do Brasil por ter sediado, além de partidas de futebol, eventos como concertos do maestro Heitor Villa-Lobos, discursos do presidente Getúlio Vargas e do líder comunista Luís Carlos Prestes e treinamentos dos pracinhas brasileiros que lutaram na II Guerra Mundial.
Entretanto, é um fato pouco conhecido que uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil, o desfile das escolas de samba, também já ocorreu no estádio do Vasco. Isso aconteceu em duas oportunidades: em 1943, num desfile beneficente e não-competitivo, em 1945, no desfile de competição.
A entrada do Brasil na II Guerra Mundial em 1942 fez com que a população e as autoridades se dividissem quanto à conveniência ou não da realização das festividades carnavalescas. Para piorar, a Praça Onze, que sediava os desfiles, havia sido demolida devido à recém-inaugurada Avenida Presidente Vargas. Foi a mudança do local dos desfiles para São Januário (1943 e 1945) e para a Av. Rio Branco (1943 e 1944) que não deixou a tradição morrer, e foi justamente nessa época que as escolas de samba ganharam importância no carnaval carioca em detrimento dos ranchos e grandes sociedades. A partir de 1946 os desfiles passaram a ocorrer na Av. Presidente Vargas.
Desifles de 1943
Em 1943 houve dois desfiles das escolas de samba.
O primeiro, não-competitivo, foi realizado em 24 de janeiro de 1943 em São Januário e promovido pela primeira-dama do país, D. Darcy Vargas, em benefício da cantina do soldado. Treze agremiações (algumas fontes citam apenas dez) participaram, entre elas Mangueira, Salgueiro, Unidos da Tijuca e a então bicampeã Portela. As escolas exibiram em sua maioria enredos que exaltavam o patriotismo.
O segundo desfile, competitivo, aconteceu na Avenida Rio Branco, no Carnaval, e teve como vencedora a Portela, que chegou ao tricampeonato.
Confira o que o livro “Escolas de Samba: Sujeitos Celebrantes e Objetos Celebrados”, de Nelson da Nobrega Fernandes, disponível no site da Prefeitura do Rio de Janeiro em versão PDF por intermédio deste link, diz sobre os desfiles de 1943:
O acirramento da guerra em 1942 – principalmente pelo avanço dos alemães no território da União Soviética e dos japoneses no Pacífico e na Ásia – apressou as negociações do acordo militar ente o Brasil e os EUA, finalmente assinado em maio de 1942. Entre 15 e 17 de agosto do mesmo ano, diversos navios mercantes foram torpedeados e afundados por submarinos alemães na costa brasileira, o que precipitou a declaração de guerra do Brasil à Alemanha e à Itália, juntamente com a decretação do estado de guerra em todo o território nacional. Num destes navios, o Itagiba, que foi ao fundo na manhã de 17 de agosto, na costa da Bahia, estava um grupo de militares do 7º Grupo de Artilharia de Dorso, sediado no Campinho, razão pela qual boa parte de seus praças era formada por jovens que moravam nas vizinhanças: Madureira, Osvaldo Cruz, Vaz Lobo. Os militares estavam sendo deslocados para o Recife, onde fortaleceriam as posições brasileiras, e no meio deles estava Silas de Oliveira, o maior compositor de samba-enredo, que felizmente sobreviveu ao naufrágio e voltou para a Serrinha (Silva e Oliveira Filho, 1981: 12, 13). As agressões exasperaram os ânimos da população no final de 1942, justificando que o chefe de polícia, Alcides Gonçalves Etchgoyen, determinasse o fechamento dos bares e botequins, após as 21 horas, e toque de recolher geral, após as 22 horas (Silva e Oliveira Filho, op. cit.: 14). Nas vésperas do Carnaval, a imprensa se juntou às autoridades, fazendo coro de que não havia clima para a festa. O Jornal do Brasil, por exemplo, publicou editorial afirmando que “festejar o Carnaval na situação em que nos encontramos seria leviandade, senão verdadeira inconsciência”. Por seu lado, a prefeitura decidiu cancelar o baile do Teatro Municipal e as subvenções para todos os grupos carnavalescos, o que levou as grandes sociedades, ranchos e blocos a decidirem por se retirar das ruas e do campo festivo. As escolas de samba, porém, não aceitaram tal imposição e demostraram que não dependiam tanto assim do apoio oficial e nem mesmo da UGES, que não teve grande destaque na organização do Carnaval daquele ano. Conquistaram para a sua causa a Liga de Defesa Nacional e a União Nacional dos Estudantes, que acabaram como responsáveis pelo desfile. Em 24 de janeiro de 1943, os sambistas demonstraram que sua posição de não abandonar os festejos carnavalescos não provava inconsciência a respeito da guerra, como acusava o Jornal do Brasil. Assim, aceitaram a convocação da primeira-dama do país, Darci Vargas, e participaram de um desfile em benefício da cantina do soldado, realizado no campo do Vasco da Gama. Cabral (1996: 137) registrou a presença de 13 escolas: Azul e Branco, Cada Ano Sai Melhor, Portela, Estação Primeira, Depois Eu Digo, Unidos do Salgueiro, União do Sampaio, Unidos da Tijuca, Império da Tijuca e Mocidade Louca de São Cristóvão. A Portela fez uma apresentação digna de nota, ao cantar um samba que incentivava a ida de brasileiros aos campos de batalha, o que de fato era “música” para os ouvidos dos militares brasileiros que ambicionavam por tal experiência; por outro lado, exaltava valores políticos profundamente inconvenientes para a ditadura de Vargas.
(…)
Para o desfile de um Carnaval oficialmente inexistente, a UNE e a Liga de Defesa Nacional indicaram uma comissão julgadora formada pelo capitão Luís Gonzaga, os jornalistas Benedito Calheiros Bonfim e Guimarães Machado, e pelo estudante Maurício Vinhais, que deram o tricampeonato à Portela, que apresentou o enredo “Carnaval de guerra”. A Mangueira e a Azul e Branco chegaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente, porém não sabemos que enredos foram apresentados. Além de terem conseguido realizar seu Carnaval, os sambistas acabaram por conquistar um direito há muito reivindicado: desfilar na avenida Rio Branco (Cabral, 1974: 117), o que no nosso entender só foi possível pelo abandono do campo festivo por parte dos ranchos e das grandes sociedades, pelo envolvimento da UNE e da Liga de Defesa Nacional e pela indiferença oficial que não teve como impedi-lo.
Já a seção histórica do site Portel@web (texto disponível neste link) diz o seguinte sobre os desfiles de 1943:
Se antes os horrores da guerra estavam distantes dos sambistas, o ano de 1943 trouxe para o Brasil os pesadelos que atormentavam a Europa.
O afundamento de navios brasileiros, creditado à ação de submarinos alemães, motivou a declaração de guerra do Brasil aos países do eixo. Entre os náufragos que sobreviveram aos ataques, estava um jovem que viria a ser um dos maiores compositores de todos os tempos: o imperiano Silas de Oliveira.
Diante dessa situação, muitos achavam que não haveria clima para o carnaval. Das principais entidades carnavalescas do período, somente as emergentes escolas de samba desfilaram. Assim mesmo, tiveram que se enquadrar no chamado “esforço de guerra”.
Apenas 10 agremiações, atendendo a um pedido de D. Darcy Vargas, participaram de um desfile que aconteceu no Estádio de São Januário, palco dos principais eventos políticos do governo Vargas, no dia 24 de janeiro de 1943.
No desfile propriamente dito, organizado pela União Nacional dos Estudantes e pela Liga de Defesa Nacional, a Portela apresentou o enredo “Carnaval de guerra”. Chamava atenção a alegoria que era formada por uma vaca com bandeiras cravadas em seu corpo. A vaca representava os países do eixo – Alemanha, Itália e Japão – e o impacto da imagem, criada por Lino, Euzébio e Nilton, mereceu grande destaque.
O samba “Brasil, terra da liberdade”, de Nilson e Alvaiada, mostrava-se totalmente favorável à entrada do país no conflito.
A comissão julgadora, formada por Guimarães Machado, Maurício Vinhais, Benedito Calheiros Bomfim, Nourival Pereira e Luiz Gonzaga, avaliou os quesitos samba, harmonia, bateria, bandeira e enredo.
A Portela, mais uma vez, sagrou-se campeã. Como prêmio, recebeu das mãos do general João Marcelino Pereira e Silva, vice-presidente da comissão executiva da Liga de Defesa Nacional, a importância de $500.
Era o quinto título da Portela. O terceiro dos sete anos de glória. Nem os horrores da guerra conseguiam apagar o brilho da Portela, que se consolidava como a principal escola do carnaval carioca.
Desfile de 1944
O desfile das escolas de samba de 1944 foi realizado na Avenida Rio Branco e teve como campeã mais uma vez a Portela, que chegou assim ao tetracampeonato.
Desfile de 1945
São Januário sediou o desfile oficial das escolas de samba em 1945. Uma briga entre integrantes de duas agremiações, que terminou em uma morte, não empanou o brilho do campeonato vencido mais uma vez pela Portela, que apresentou o enredo “Brasil Glorioso”, com samba de autoria de Boaventura dos Santos, o Ventura. Na década de 40, aliás, a escola azul e branca era um verdadeiro “Expresso da Vitória” do samba: chegou ao heptacampeonato entre 1941 e 1947.
O livro “Escolas de Samba” dá os seguinte relato sobre o desfile de 1945:
Em 1945 a guerra vivia seus momentos de definição e a tensão reinante era grande como nunca. Quase nada se sabe do Carnaval daquele ano, cujos festejos se reduziram mais ainda. As escolas desfilaram, mas não tiveram o direito de se exibir na avenida Rio Branco, cuja apresentação foi deslocada para o estádio do Vasco da Gama. Segundo Tupy (op. cit.: 106), a Portela alcançou o pentacampeonato com o samba “Brasil glorioso”, de autoria de Jair Silva.
(…)
Cabral informa que o desfile só obteve alguma atenção da imprensa nas páginas dos assuntos policiais. É que o desfile ficou marcado por uma briga entre integrantes de duas escolas de samba, a Depois Eu Digo, do morro do Salgueiro, e a Cada Ano Sai Melhor, do morro de São Carlos, que findou com ferimentos em cerca de vinte pessoas e a morte de José Matinadas, integrante da bateria da escola do Salgueiro. Do homicídio, foi acusado pela polícia Avelino dos Santos, o mestre-sala da escola de São Carlos, que assim foi preso. Mas tudo não passava de engano porque, meses depois, ficou comprovado que Avelino sequer havia comparecido ao desfile. De qualquer forma, Cabral (1996: 140) salienta que a maior parte da imprensa fez coro com os detratores das manifestações dos grupos populares, que tentavam provar com o episódio que essa gente do samba continuava adepta de violências, justificando assim suas recomendações quanto à censura, ao controle e à repressão que os sambistas mereciam. Felizmente, nem toda a imprensa concordou com esse oportunismo, e o jornal O Radical saiu em defesa das escolas de samba.
Aquilo que aconteceu Domingo último no estádio do C. R. Vasco da Gama foi um acontecimento banal na vida da cidade. Mas, como os seus personagens vieram lá do alto dos morros cariocas, com as suas cuícas, os seus tamborins, as suas pastoras e a sua “bossa”, o fato cresceu e deu margem aos mais desairosos comentários contra essa gente boa e simples, cuja maior desgraça é ser pobre. Tudo se disse de mau e pejorativo objetivando deprimir os companheiros de ideal daquele infortunado Matinadas, que caiu para sempre, vítima de cruel fatalidade. E para quantos se derem o trabalho de subir no Salgueiro ou percorrer a Mangueira ou de passar algumas horas na Portela, ou de travar conhecimento com um Paulo da Portela, um Cartola, um Antenor Gargalhada ou um Pedro Palheta, a gente do morro – essa gente que faz samba com a alma e que canta com o coração ávido de felicidade – é apenas um caso de polícia.
O Radical continuou a defender as escolas de samba, publicando seguidas notas sobre o assunto e acabou por dar aos sambistas a oportunidade de se defenderem segundo seus próprios pontos de vista, entrevistando várias de seus líderes, entre eles, Paulo da Portela, cujo depoimento confirma mais uma vez sua capacidade de político e líder popular.
Nós, os sambistas do morro – iniciou Paulo –, não merecemos tantas acusações. É doloroso que um incidente, embora de funestas conseqüências, tenha dado margem a tão errôneos conceitos contra nós. Entretanto, somos atingidos agora pelos piores adjetivos e pelas maiores humilhações. É possível que, antigamente, fossem os morros refúgios de ladrões, desordeiros e maus elementos de toda a espécie. Mas, falemos a verdade: quando o samba começou a se organizar e as escolas foram ganhando projeção, os morros eliminaram a desordem e a valentia e ninguém ficou com o direito de puxar a navalha, de ser malandro ou viver do baralho.
O site Portel@web (texto disponível neste link) descreveu o desfile de 1945 da seguinte maneira:
O ano de 1945 não começa mais animador para os sambistas. A tensão na Europa continuava e a participação direta dos pracinhas na Itália fez desaparecer completamente a alegria, fundamental para a festa do carnaval.
O desfile ocorreu no Estádio de São Januário, sede do Clube de Regatas Vasco da Gama. A imprensa só lembrou do espetáculo para registrar o triste incidente que marcaria aquele ano, que foi a briga entre integrantes da “Depois Eu Digo”, do Morro do Salgueiro, e da “Cada Ano Sai Melhor”, do Morro de São Carlos.
O assassinato do sambista Matinada, em pleno estádio, motivou uma briga de tristes recordações para a história das escolas. O episódio acabou com a prisão de Avelino dos Santos, o Bicho Novo, liberado apenas meses depois, quando finalmente os policiais confirmaram a veracidade de seu depoimento, pois o famoso mestre-sala do Morro de São Carlos não tinha comparecido ao desfile em São Januário.
Aproveitando-se do incidente para reafirmar antigos estereótipos, parte da imprensa pediu para que providências enérgicas fossem tomadas contra as escolas. Algumas personalidades do samba, entre eles o já consagrado Paulo da Portela, transformaram-se nas vozes de defesa dos sambistas, fazendo uso do microfone de algumas rádios solidárias à causa das escolas.
Mas o carnaval daquele ano não foi marcado apenas pela tragédia. Oito escolas se apresentaram, em mais um desfile organizado e com enredos definidos pela União Nacional dos Estudantes e pela Liga de Defesa Nacional. A turma de Oswaldo Cruz, já acostumada com as vitórias, estava confiante na conquista de mais um triunfo.
A Portela pisou o gramado de São Januário mostrando o enredo “Brasil Glorioso”, com samba de autoria de Boaventura dos Santos, o Ventura. Mais uma vez, os motivos patrióticos foram mostrados no desfile, e a Portela obteve sucesso.
Não apenas a tragédia ficou na lembrança dos sambistas, mas também o show patriótico que a Portela mostrou, colocando, mais uma vez, um pouco de alegria na vida das pessoas que compareceram ao espetáculo. Apesar do momento difícil, o show não podia parar.
E mais uma vez a festa rolou em Oswaldo Cruz. A Portela era pentacampeã.
Era o sétimo título da Portela.
Fonte: NETVASCO
Vasco colabora com as Forças Armadas durante a Segunda Guerra
O Vasco da Gama colaborou com o Brasil até mesmo nas horas de guerra, o clube colocou São Januário a disposição das Forças Armadas Brasileiras no período da Segunda Guerra Mundial. O clube bancava a Escola de Instrução Militar, que formou cerca de 10 mil soldados.
Nesse período, o Vasco serviu de alojamento para os soldados que vinham de outros estados a caminho da Guerra na Itália; nele realizou-se a primeira demonstração de defesa antiaérea e desfile das forças motorizadas; realizou uma partida em benefício às vítimas dos bombardeios dos nossos navios pelos submarinos alemães; e serviu como única fonte de lazer para os militares, sediando várias competições esportivas entre as marinhas do Brasil, Estados Unidos e Inglaterra. O Vasco doou à Força Aérea Brasileira dois aviões para serem utilizados na guerra.
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