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Cartilha de alfabetização causa polêmica na rede municipal do Rio

06 mai 2009

Lição para a secretária

Importada de São Paulo, a secretária municipal de Educação, Claudia Costin, só recebeu elogios quando decidiu promover um programa de reforço escolar para muitos alunos em dificuldades. Hoje, merece vaias. É o que mostra ótima reportagem do Extra sobre a cartilha que será usada nesta atividade. O material didático está repleto de questões polêmicas e pode, segundo especialistas, estimular o preconceito e a discriminação entre os próprios alunos. Entre algumas barbaridades, está a possibilidade de toda criança vesga virar motivo de chacota dos colegas. O Extra deu uma aula à secretária.

Mas o mesmo não pode se dizer de uma matéria na página 17 também envolvendo uma autoridade municipal. ´Nela, o secretário de Administração, Paulo Jobim, diz, sem ser questionado em momento algum, que o município dará 4% de aumento aos seus servidores, apesar do aperto no custeio. Parecia estar concedendo um favor ao funcionalismo e não cumprindo o que manda a lei. Aliás, já esta na hora de o jornal mostrar tudo vem sendo retirado dos servidores do Rio nos últimos meses. A começar pelo peru de Natal que Eduardo Paes decidiu arrancar da mesa de todos eles.

// Postado por Eucimar de Oliveira

Fonte: Youpode

Confira a matéria do Extra:

Exercícios de alfabetização causam polêmica na rede municipal do Rio

Educadores consideram preconceituosos exercícios em cartilha de reforço escolar no Rio

Gabriela Moreira e Letícia Vieira – Extra

Zarolho é o oposto de bonito? Todo surfista é doidão? As duas questões têm sido discutidas entre professores da rede municipal de ensino. O debate começou depois que o corpo docente recebeu o material didático, que será usado nas aulas aos estudantes que não conseguiram se alfabetizar nas escolas municipais do Rio.

As duas relações estão implícitas nas cartilhas do Instituto Ayrton Senna. Os livros começarão a ser usados na segunda quinzena do mês, quando iniciam as aulas de reforço a 17,8 mil alunos, do 4 e 5 anos considerados analfabetos funcionais (Fórum: você acha preconceituosos os termos usados nas cartilhas?) .

Na aula número 18 de um dos dois livros, no exemplo da sílaba “za”, o material apresenta a palavra zarolho que, no dicionário, é explicada como: estrábico ou cego de um olho. Ao lado da palavra, o desenho de um menino vesgo. Para a professora Laura (nome fictício), o ensinamento pode incitar ao preconceito e à discriminação entre os colegas:

– Da forma colocada, expõe ao ridículo os colegas que forem vesgos – disse ela.

O comentário sobre a palavra só é dado no livro seguinte, na página 131. “O zarolho aqui é colocado apenas como uma reflexão”, começa a explicação. “Você já reparou como é prazeroso viver com alguém que não é bonito mas é muito bondoso?”, continua.

Exercício polêmico

Outro problema apontado foi a relação feita entre o surfista e o termo doidão. Numa questão que testa a compreensão de palavras iniciadas com a letra “d”, o “adjetivo” doidão pode ser relacionado ao desenho de um surfista.

A Secretaria municipal de Educação defendeu, em nota, o material pedagógico, que considerou “consistente e adequado para a faixa etária dos alunos do 4 e 5 anos”.

Já a coordenadora de educação formal do Instituto Ayrton Senna, Inês Miskalo, afirma que o material é utilizado em todo Brasil e serve como diretriz para que professores trabalhem os temas, segundo costumes de sua região:

– Cada palavra causa uma sensação em determinado local. O professor pode trabalhar diferenças a partir da palavra zarolho ou tratar doidão, como alguém legal, que sabe curtir a vida.

” Chega de preconceito. O que mais se vê nas turmas e na sociedade é a discriminação do diferente “

Especialistas em educação se dividiram sobre a utilização das duas palavras no material pedagógico. O professor da rede municipal e doutorando em educação pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), Emílio Araújo acredita que associar zarolho a alguém não bonito e o termo doidão ao surfista é disseminar o preconceito na sociedade.

– Chega de preconceito. O que mais se vê nas turmas e na sociedade é a discriminação do diferente, do negro, do gordo, do portador de necessidade especial. O uso do zarolho dessa forma é absolutamente incorreto e absurdo. Já o doidão é desnecessário, fragmentado e discriminatório – disse ele.

Para especialista, exemplos incorretos

A professora da Faculdade de Educação da Uerj, Bertha do Valle, afirma que o mais importante é a forma como os professores irão apresentar os temas:

– O encaminhamento do tema vai depender do professor. Se ele souber conduzir bem, o conteúdo não irá ser interpretado de forma pejorativa ou agressiva.

Bertha diz que o termo doidão pode ser interpretado como pessoa que costuma agir fora dos padrões:

– Doidão pode ser alguém que tem atitudes fora do comum, não é necessariamente algo ruim. Já o zarolho pode ser mal interpretado, caso o professor não encaminhe bem a aula – disse Bertha.

O surfista Rico de Souza pensa diferente. Ele defende que a visão da sociedade sobre o surfista mudou e sugere que possa ter havido preconceito com os surfistas.

– Já foi o tempo em que os surfistas eram vistos como doidões de cabelos parafinados. Não sei qual é a resposta certa desta questão, mas, caso seja o adjetivo, é realmente muito triste saber que ainda existem pessoas com preconceitos em relação ao surfe.

Fonte: Extra

Foto: Extra

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